Tenho uma amiga que hoje passou umas horas com Ivan Lins. Um senhor que se habituou a ouvir lá por casa sem prestar atenção. Tem uma ideia que não é tão vaga quanto isso de ter parado para ouvir Começar de Novo e Lembra de mim. Depois esqueceu-se de fazer tocar no leitor o CD que se perdeu. Hoje lembrou-se. Ivan Lins é mais alto e mais velho do que ela pensava. Tem mau aspecto. Parece um taxista desleixado acabado de sair da cama. Daqueles que não falam e deixam o carro a cheirar mal. Não havia cheiro no estúdio e ele cantou. O taxista passou a galã de noites de casino ao piano mas em bom. Bilhete. Com um António que desconhecia até hoje, português do fado. E ela lembrou-se. Enquanto ouvia a letra de Bilhete lembrou-se de um tempo que passou. Seria o bilhete não enviado e reclamado há algum tempo atrás. Seria mais ou menos este bilhete. Com algumas adendas. Que tinha feito aquele amor de olhos sempre fechados como manda o regulamento. Mas que um dia os abriu. Para, por alguns momentos, deixar de sentir o ser amado e ver o ser humano. E não gostou do que viu. Tentou fechá-los outra vez mas a imagem da pessoa estava gravada na cabeça já de olhos fechados. Daquela vez não foi a vida que matou o amor. Foi o que ele fez com a vida dele e a dela. Dizem agora que ela está melhor sem ele. Está de riso fácil e movimentos soltos. E está. E estas seriam as palavras cobradas que nunca chegaram a ser ditas. Seguem agora num pequeno Bilhete.
Eu limpei minha vida,
te tirei do meu corpo
Te tirei das entranhas
Fiz um tipo de aborto
E por fim nosso caso acabou,
está morto
1 comentário:
Sou só eu, ou esta música tem um bocadinho de genérico de "vila faia" (o mais certo é ser o contrário) sinceramente pouco percebo de música, e também me deu preguiça de pesquisar..
Mas indo ao que interessa, adorei o poema! Só lamento, ser também eu, um possível destinatário deste Bilhete, embora de outra remetente.
bjs
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