Tenho uma amiga que é parva. Mas não era isto que queria dizer. Olhem que isto... não há fome que não dê em fartura. Amigas, travessia no deserto, mais longe do que é importante e não sei quê. A Amiga alinha hoje num
double date maradíssimo, daqueles a quatro (daí
double date, já tinha dito que tenho uma amiga que é parva?) em que os quatro vão, não para os propósitos com que normalmente se vai para um “evento” destes (nem o propósito trocado, ou seja, swing), mas apenas pela palhaçada, galhofeira, voltar à adolescência- mas da adolescência do nosso tempo, inexperiente, não aquela de hoje, promíscua (é oficial, estou velha)- só pelo prazer do “ritmo das conversas”. Que promete, promete! Tudo isto para dizer que a vida, não contente com a tal promessa do nada que, às vezes, sabe a tanto, ainda faz tocar o telemóvel já passava da meia-noite. Vendo o nome no visor, a amiga pensa “típico”. Mas do outro lado não ouviu o que esperava. Mesmo. E por isso (eu bem avisei) a amiga vai aqui postar a conversa tal qual aconteceu, talvez com alguns enfeites mais ainda. Que é bem-feito!
Ele: Olá %&&&%
Ela: O que é que queres?
Ele: Estava aqui a pensar. A nossa amizade já tem muitos anos, já nos conhecemos muito bem. Está na altura de um
upgrade.
Ela: Como assim?
Ele: Estás sozinha?
Ela: Não...
Ele: Estou a sair daqui (não interessa onde) e vou agora para casa, não queres lá ir?
Ela: Precisas de alguma coisa?
Ele: Estava a pensar... estás solteira... e eu como sou mesmo teu amigo, podia fazer alguma coisa por ti.
Ela: Ui! Estás mesmo com falta de sexo.
Ele: Só há uma semana. Mas como somos mesmo amigos... não sou nada apologista da máxima “amigos, amigos/negócios à parte”. E nós conhecemo-nos tão bem, está mesmo na altura ideal para o passo em frente. Acordavas de barriguinha cheia... ia ser tão bom.
Ela: Nem penses nisso. A nossa amizade já tem muitos anos de estrada, não quero desviar-me do caminho.
Ele: Eu dava-te mais kilometragem. És muito conservadora. Os amigos de hoje em dia fazem isso. Todos os amigos em Nova Iorque fazem isso. Tens de ser mais Nova-Iorquina. Fazer sexo do bom com os teus amigos, e eu sou tão teu amigo. Sabes, tens que ir a Nova Iorque para ver como é. Sabes que eu conheço bem Nova Iorque.
(Nota: Ele nunca esteve em Nova Iorque)
Ela: Mas tu estás parvo? Vou dormir. E se fosses meu amigo mesmo não te punhas com essas cenas. Apresentavas-me aos teus amigos giros, só te conheço é camafeus como amigos.
Ele: Pensa bem, eu garanto qualidade. Liga-me daqui a pouco ou manda-me uma mensagem a dizer que estás a caminho de minha casa. Vá lá.
Ela: Não. Porque eu sou tua amiga e para ti só quero o melhor. E agora estou magrinha, não ias gostar. Prometo pensar nisso depois da dieta da engorda, qual frango do aviário.
Ele: Aviava-te já. Gosto de ti assim. Estás com bom ar. Ris-te como quem quer que lhe saltem em cima. Mas está bem. Quando engordares, eu sou o primeiro? Sou tão teu amigo.
Ela: Cala-te e toma um banho de água fria que isso passa.
Ele: Vá lá.
Ela: Não. Vai-te f*****
Ele: Exactamente... Se ao menos deixasses. Depois ficávamos ainda mais amigos. Pensa. Se tiveres tensão baixa ou falta de açucar, pensa nisto.
Gargalhada sonora, beijinhos, boa noite. DESLIGAM.
Uff... É bom pensar que nós mulheres, mesmo com mais de um mês de deserto, conseguimos apenas mostrar desespero num blogue de identidade anónima. Ou às amigas mais próximas. Nunca aos amigos. Pode engordar-se, que a anorexia nunca ficou bem a ninguém, mas nunca exibir gorduras ou magrezas a um amigo. Não assim. Que me desculpem as senhoras modernaças de Nova Iorque, que a amiga é bem Portuguesinha.
Eu bem avisei. E é bem-feito.
Prometo contar sobre o double date. Inocente. Inexperiente. Só pelo “ritmo das conversas”.
E o OASIS pode esperar...